O monstro no meu armário

domingo, 8 de abril de 2012

Na cidade de Raccoon City, anos após anos várias crianças desaparecem e nunca mais são encontradas. Sem pistas, sem alguém que dê a seus parentes esperanças de encontrá-las vivas, ou um corpo e um culpado.


Se for sortuda o bastante, a criança pode reaparecer na rua como em um passe de mágica, confusa sobre seus paradeiros ou sobre quem a pegou. Todas elas descrevem o mesmo rosto. O rosto é desfigurado, olhos vermelhos e pelagem preta, eles o descrevem como um demônio. Esse demônio os leva por uma porta que se abre dentro de seus armários que dá ao inferno, vária de criança a criança. Ele pode lhes mostra o seu maior medo, seja escuro, cobras, à até mesmo pessoas mortas. Pode ser inclusive a pessoa que você mais ama.

Mentes infantis eram em seu todo amáveis, entretanto profundas com toda a imaginação fértil que tinham. Crianças eram verdadeiros criadores de universos e de novos seres. Poucos adultos tinham esse dom, apenas os artistas com almas sensíveis e feridas. 

-Mãe!- O pequeno Michael gritou assustado depois de um pesadelo, ao perceber que seu quarto estava tomado por sombras.

Ele ouviu passos apressados vindo em direção ao seu quarto. Sua mãe abriu a porta e a luz do corredor iluminou o ambiente o fazendo proteger seus olhos com as mãos.

-O que foi?- a mãe indagou sonolenta. -Teve outro pesadelo?

Era comum Michael ter pesadelo com vozes que diziam querer leva-lo, ele sempre dormia com a luz ligada e quando a mãe tentando desliga-lo, ele acordava no meio da noite gritando. Ela não sabia o que a fazia ainda tentar apaga-las.

-Foi!- Michael estava esgotado, seu corpo não aguentava mais toda essa privação de sono. Ele dormia na sala de aula, não conseguia comer direito e tudo o lembrava dos sonhos ruins. As vozes pareciam segui-lo, e nada adiantava contra isso. A mãe até tinha o levado ao psicólogo que disse que ele era uma criança normal que precisava de mais atenção.

O problema é que Michael tinha atenção. Até demais.

-Querido, quer tomar remédios novamente?- a mãe perguntou tentando soar calma, ela sabia que calmantes o fariam dormir, mas Michael não gostava de remédios, dizia que o deixavam com o raciocínio mais lento do que quando não dormia.

-Não precisa mãe, eu volto a dormir por conta própria- ele acalmou a mãe e se cobriu mais com seu cobertor azul.

- Está bem, qualquer coisa é só me chamar.

-Deixa a luz ligada!- Michael gritou assim que a mãe passou pela porta ligando a luz de seu quarto. Ele suspirou aliviado e a mãe fechou a sua porta.

Michael rolou de um lado pro outro na cama e não conseguia dormir. Ele ouviu um barulho no seu armário e se encolheu de medo.

-Vá embora!- ele estava aterrorizado, sabia que era algo ruim ali dentro.

As luzes começaram a piscar e Michael ouviu um barulho em sua porta.

-MÃE!- ele gritou com toda energia que tinha e sabia que o bicho dos seus pesadelos estava querendo leva-lo.

Uma vez seu amigo da igreja descreveu o inferno para ele após dizer que se comportava mal e iria para lá quando morresse. Descreveu o cheio de enxofre e ovos podres. Disse que era um lugar escuro, coberto de lama e fogo, com pessoas gritando a todo o momento em meio à dor.

Era exatamente este cheiro que infiltrou seu quarto.

Foi ai que soube, ele voltou para busca-lo.

As luzes se apagaram de uma só vez e o menino só ouviu seu coração batendo fortemente. A porta do seu armário se abriu e ele olhou com pavor uma sombra rastejar até onde ele estava.

Michel começou a gritar, gritos agonizantes de puro desespero. Sua mãe se levantou assustada assim que escutou de seu próprio quarto seu filho aterrorizado com algo. Correndo até o quarto de Michael, tentou abrir sua porta, mas estava fechada e ela bateu os punhos contra a porta, mas de nada adiantou, ela entrou em desespero.

Michel ouvia a sua mãe atrás da porta, mas não conseguia abri-lo.

O bicho ainda rastejava deixando um rastro de sangue e lama no chão por onde passava. Em um piscar de olhos, o demônio tinha sobre seu agarre firme os tornozelos do menino Michael com suas mãos. Seu aperto era tão forte que conseguiu arrastar o garoto em esforço para fora de sua cama e logo para o chão.

Michael gritou agoniado quando caiu e bateu à cabeça no piso, ficando confuso por um instante devido à queda. Colocou suas unhas no chão com força enquanto o bicho o arrastava e seus dedos ficaram feridos e seu sangue se espalhava pelo piso, tanto o do tornozelo quanto o da sua unha.

Suas unhas se soltavam da carne enquanto tentando se manter onde estava e gritava de dor enquanto o bicho continuava a arrasta-lo até o armário. Michel observava uma porta parecendo um buraco negro dentro do seu armário. Era tudo escuro, Michel tinha medo do escuro.

O bicho o arrastou até lá e o jogou no seu próprio inferno para testa-lo, se ele tivesse medo ele morreria, se ele superasse, poderia viver.

Michel olhou pela última vez o bicho.

Olhos vermelhos, dentes afiados como agulhas, rosto desfigurado com o que parecia cicatrizes grossas e grotescas, além de sua pelagem preta grossa.

Michael fechou os olhos e quando o abriu nada conseguiu enxergar. Desesperou-se e recomeçou a gritar. Tinha esperanças de que alguém o ouvisse.

A porta de seu quarto abriu e quando sua mãe entrou a sua procurar chamando seu nome, não conteve seu desespero e berros com o que viu: o quarto do garoto estava banhado de sangue e no piso arranhões e resto do que pareciam unhas do menino.

- Ai meu Deus, meu filho!- a mulher chorava inconsolavelmente tentando encontra-lo inutilmente. Não conseguia enxergar o portal no guarda-roupa, sua visão era a de um guarda-roupa normal cheia de roupas amassadas.

Michel por outro lado procurava cegamente sair daquele lugar onde o monstro brincava com sua mente.

Um, dois, três... um, dois, Três.

O monstro cantava com voz cavernosa repetidamente de modo incansável. Seu desespero, sua dor e medo o alimentavam.

Um, dois, três... um, dois, três.

-Deixe-me em paz!- Ele chorava fortemente em meio aos soluços.

-Eu quero minha mãe- Ele fez o que toda criança faria, pediria a sua mãe porque sempre significava segurança.

-Seu mãe não existe mais, ela morreu-  disse o mostro ironicamente, ele estava deliciado com a descoberta de outra fraqueza humana. –Pobre garoto órfão.

-Não morreu nada- A voz do menino era puro pavor, a palavra lhe saiu amarga. –Eu a vi hoje.

As luzes se acenderam e os olhos do menino arderam com a intrusão de cores. Em sua frente estava sua mãe e ele lutou contra a vontade de abraça-la. Algo estava errado, ele sentia isso.

Sua mãe possuía uma tesoura, e deu uma risada maníaca quando ergueu a tesoura e a passou a lamina em seu pescoço agressivamente. Um corte profundo se formou e a cabeça se pendurou frouxa enquanto o sangue espirrava por todo o piso branco. A poça escorreu rapidamente até o pé do menino e uma frase se formou. MORTA!

Em choque, as pernas do menino tremeram ao ponto de não manter o equilíbrio no mesmo momento em que um liquido quente escorreu em suas pernas. Estava tão horrorizado que havia feito xixi. Deitado agora ao chão, colocou a cabeça entre seus joelhos, silenciosamente suas lágrimas escorriam, ele não sentia nada, só frio. Sua mente em forma de proteção começou a ficar confusa, ele não tinha pensamentos coerentes e ele repetiu a si mesmo que não era real.

Não é real, não é real, não é real...

Havia visto sua mãe hoje, ela nunca estaria aqui. Estava bem, em sua casa e o monstro estava brincando com sua mente. Ele não deveria entretê-lo mais.

Vá embora, não tenho medo de você!- Vociferou alto em sua mente.

Fechou os olhos durante a repetição da frase em sua mente e quando os abriu, estava em seu quarto novamente. Todo o local continha faixas amarela que ele reconheceu ter visto em filmes policias em cenas de crimes. Ainda tinha sangue sobre o chão e lama.

-MÃE!- Gritou chorando. Não queria acreditar que sua mãe estava realmente morta.

-Filho!- a voz da mãe sentada em uma cadeira no canto mais escuro do quarto. Ele olhou e ali estava ela. Não perderam tempo correndo um para o outro.

-Você estava morta e ele queria me levar- ele repetia lembrando-se de tudo.

Um, dois, três... um, dois, três.

Um, dois, três... um, dois, três.

Um, dois, três... um, dois, três.


Cinco meses depois.

-Ele está obtendo melhora?- a mãe de Michel olhava pelo vidro da porta seu filho se debatendo e gritando números em uma contagem sem fim.

-Não tivemos uma melhora, mas o lado bom é que também não se foi alcançada uma piora. Ao tentarmos fazer teste com luzes ele ainda grita e começa a se machucar- O psiquiatra disse olhando pelo mesmo vidro que a mãe da criança. –A senhora vai mesmo autorizar os testes? Precisamos assegurar ao Michael que nada do que viu era real, que seu medo é criação de sua mente. 

-Se for pelo seu bem, eu autorizo- A voz dela era de dor, ela queria seu filhinho de volta.

Houve um tempo em que seu filho foi uma criança normal, brincava, ia a escola, dava risada e sorria. Tinha um tempo desde que o vi fazer algo assim. Ele não sorria mais e parecia sempre desconfiado, agressivo.

Ela assinou os papéis sentindo uma dor sobre seu coração e apertou o peito com a mão. Eles prenderam seu filho Michael, de apenas sete anos de idade, em uma camisa de força para que não se machucassem, colocaram uma sala enquanto Michael ainda fazia.

-Está pronta?- Perguntou o psiquiatra a mãe de Michael.

-Sim- Ela respondeu sabendo que mentia. Nem em um milhão de anos estaria preparada para ver seu filho em uma camisa de forças.

Eles desligaram as luzes da sala de Michael e instantaneamente começou a berrar.
Um odor de ovos podres invadiu o local e Michael se calou. A mãe estranhou o silencio assim como os profissionais presentes no local.

Michael ainda estava parado sentindo a presença da besta quando algo segurou sua perna fazendo-o gemer de dor.

Encontramos-nos de novo Michael, só que dessa vez sua alma me pertence. O monstro lhe disse com a voz extremamente grossa e controlada. Era perversa, de gelar a espinha de alguém.

Quando voltou a gritar novamente, a mãe começou a dizer para soltarem seu filho dali e ligarem a luz. Apesar de suas solicitações, ao tentar ligar as luzes houve uma falha mecânica.

-Não tem como ligar as luzes daqui, só pelo lado de dentro- Uma enfermeira avisou.

-Então façam isso, liguem por dentro.

-Deus, essa sala está com um cheiro tão estranho- O enfermeiro que entrou reclamou e não conseguiu acender a luz por dentro. Teve receio um segundo que Michael pudesse agredi-lo, mas ele era apenas um menino magricela que estava preso a uma camisa de força e a uma cadeira.

Jurou sentir um arrepio passar por seu pescoço até seu couro cabeludo como se sentisse a presença de algo maligno ali. 

Um, dois, TRÊS- o monstro gritou novamente arrastando Michael a uma porta que se abriu na parede. Outras pessoas estavam lá daquela vez, todas berravam e se encontravam em chamas. Era o inferno, desta vez tinha certeza.

Antes que pudesse sentir medo, tudo ficou escuro. Sentiu um sorriso escorrer e congelar em seu rosto.
Sua alma não lhe pertencia mais!   

FIM  
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Não sei se perceberão, mas coloquei a cidade dos desastres de Resident Evil! Espero que apreciem a leitura ♥

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