One-Shot- He/She.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

 Jogado em sua cama, ele contemplou a infelicidade de ter acordado naquele dia. Em seu celular, datava 27 de outubro. 

  Era aniversário dela

  Lembrava tão claramente de como haviam comemorado no ano passado aos seus 21 anos, juntos como nunca haviam estado antes. Ele conseguia visualizar o sorriso dela, tão largo quanto ele poderia jurar que o dele estava. 

  Ele havia sussurrado seu nome contra sua boca, nunca obtendo o suficiente dela. Nunca sendo o bastante da mistura de ambos. Seu coração batia tão forte que parecia quase que uma hora pararia. Mas só pensava em chegar mais perto, em ter mais dela.

  Ela havia rido, segurando o colarinho de sua camisa, o puxando também, provando que sentia da mesma abstinência que ele. Provando que ambos tinham a mesma vontade, o mesmo sentimento e a mesma sintonia.

  Nunca antes havia se sentido como parte de algo especial, como se fosse capaz de amar e ser amado dessa forma. Mas toda vez que olhava para seu rosto e via seu olhar refletido nos olhos dela, como se fosse a melhor coisa que ela havia visto, era dessa forma que estava naquele caminho.

  Sua risada estranha, a forma como caminhava, aquele sorriso torto e humor distorcido. Ele não poderia deixar de notar todos os defeitos que a faziam ela. Que a faziam dele. Ela gostava das poesias obscuras dele, de seus enigmas e entendia suas vontades e manias, era melhor em compreendê-lo que ele mesmo. 

  Todos sempre o enxergavam como problemático, como uma peça quebrada que deveriam jogar fora porque colar não adiantaria em nada... nunca ela. Pra ela, ele era a melhor coisa que havia acontecido.

  E agora estava perdido.

  Ela estava a milhões de quilômetros de distância dele, e ele queria quebrar essas barreiras entre eles, sabendo que era impossível. Ainda conseguia escutar sua voz quebrada dizendo que não podiam continuar o relacionamento a distância. Que machucava ela ficar tão longe dele sempre.

  Ele se sentia tão perdido agora. 

  Como ela estaria agora? Estaria comemorando com suas amigas ou havia alguém com ela? Ela o amaria da mesma forma que o amou? Estaria olhando para ele da forma como o olhava? A dor era imensa. 

  Levantando, foi até sua cozinha e pegou o vidro de sua cerveja favorita. Se ela estivesse ali, teria dito que fazia mal a saúde e iria franzir o rosto, não gostando que ele se maltratasse dessa maneira. Se ela estivesse ali... se ele pudesse alcança-la.

  Antes que pudesse se impedir, agarrou seu celular e digitou seu numero para uma nova mensagem.

  "Você pediu para que eu cortasse contatos com você, para que assim pudesse seguir em frente. Me desculpe, mas não consigo passar o dia de hoje sem te mandar uma mensagem.

  Feliz aniversário, amor! 

  Eu espero com tudo em mim que esteja feliz hoje, cercada por pessoas que ama e que tenha em seu rosto o maior sorriso de todos, porque é o que estou imaginando. Você sabe que eu desejaria sempre estar ao seu lado em todas as etapas de sua vida, mas como não posso, não me prive disso.

  Eu te amo, amei assim que te vi caminhando na rua em minha viagem ao Brasil, olhando para mim como se me visse por quem verdadeiramente sou. Por quem um dia fui. Eu te amei naquele nosso primeiro encontro em um barzinho em pleno carnaval, nós dois tomando cervejas e rindo de piadas tão simples, tão bobas. Estava encantado por ter conhecido alguém que apesar de ser de uma cultura diferente da minha, ter hábitos diferentes e personalidade quase contrária, se conectou comigo de uma forma que ninguém mais conseguiu em toda a minha vida. E eu agradeci que falasse em minha língua. 

  Saiba que vou sempre segurar a sua mão, seja ai no Brasil, no Estados Unidos ou na Coreia se precisar, ou onde você queira que eu esteja.

  Aproveite seu dia, 

  sempre seu.

  Assim que terminou de enviar, se sentiu tão vazio, tão triste, que queria fazer tudo, menos lembrar que dia era. Tratou de começar a beber sua cerveja, desviando de vários moveis que tinham em seu quarto para se jogar novamente na cama. Foi naquele momento em que sua campainha tocou. Ele cogitou não levantar, mas pensou que se fosse alguém de sua companhia o incomodando a trabalho, iria ser mais rápido se livrar logo da pessoa do que ser incomodado por todo o dia.

  -Já vai, porra!- Gritou para a porta quando a pessoa tocou a campainha mais cinco vezes. Abrindo a porta, não acreditou de primeira.

  Lá estava ela segurando uma pequena caixa em suas mãos pequenas, usando uma jaqueta jeans preta, uma blusa branca supreme por dentro da sua calça jeans, o olhando com seus olhos castanhos, parecendo um anjo bronzeado.

  Por alguns instantes, ficou petrificado.

  -Eu viajo por 12 horas e nem ganho um abraço?- Seu sorriso tímido o fez sair de seu transe e correu para abraça-la.

  Com o rosto enterrado em seus cabelo ondulados, seu cheiro de morango o infiltrando, percebeu o quanto havia perdido isso. -Não acredito que está realmente aqui!

  -Eu sei, nem eu.- Deu uma risadinha, amando vê-lo tão feliz por tê-la ali.

  -O que te fez vir?

  Olhou para ele como se fosse idiota.

  -Já que é meu aniversário, eu posso escolher o presente que quero e bem, escolhi você- Apesar da brincadeira, tocou seu rosto. Deixando saber que estava sendo séria quando segurou seu olhar no dela. -Estou cansada de distâncias, querido. E esses dias me fez decidir que não consigo ficar longe de você.

  -Eu te amo, anjo! Espero que saiba disso. Se quiser que eu me mude pro Brasil, faço isso em um piscar de olhos, só não termine comigo- Sua voz tinha um tom de desespero que ela detestava. Segurando seu corpo magro, não queria mais largar. Não precisava mais largar.

  Não havia nada mais triste para ela do que não vê-lo bem.

  -Não há nada que não possamos resolver. Eu também te amo e é isso que importa.

  Quando ele alcançou sua boa com a dele, ela sentia ali a promessa sendo firmada. Nada poderia mantê-los longes um do outro, nem mesmo estar em continentes diferentes. Eles eram uma tragédia tão bem traçada que seriam a mesmas continuas palavras ligadas por um todo, para forma algo maior. 

  Sorriu por entre o beijo, sentindo ele fazer o mesmo. 

  Naquele momento, sentiu o sentimento familiar de reciprocidade.

  Não havia nada melhor do que amar e ser amada por ele.

  -Querido, você vai esmagar o bolo!- Gritou o empurrando para longe da caixa agora amassada entre eles.

  Não perdeu o sorriso malicioso dele. -Amor, vou ter coisa melhor para comer.

  Sim, ser amada por ele era maravilhoso! 
  
FIM, talvez.


  Escrevi isso em cinco minutos, literalmente, para uma amiga minha a um tempo atrás quando sabia que ela precisava de algo para se animar. Pensei em postar aqui para mantê-la salva, e apenas troquei elementos que eram o cantor favorito dela,  e o nome dela que eu havia posto. Espero que gostem e até a próxima, lindos! >.<