Taylor
Antes
de ter que me encontrar com Jake para fazer nosso trabalho hoje, admito que o
evitei o máximo que pude.
Durante
a aula, sabia que tentaria sentar ao meu lado ou perto, então antes que
chegasse sentei atrás de sua prima avisando para que não fizesse comentário de
onde estava e me escondi quando ele apareceu. Nina ficou curiosa, mas não disse
nada. Nenhuma vez ele perguntou por mim e minhas testas se franziram. Não olhou
para trás.
Na
saída, fui a ultima a ir embora, fazendo questão de me certificar que ele não
estava no corredor. Tinha a sensação de ser uma boba por estar fazendo isso,
Jake nunca havia me feito nada para que eu o evitasse dessa forma. Minha
atração por ele me envergonhava e simplesmente não queria agir sobre isso. Já
estava em meu dormitório quando meu celular apitou indicando uma nova mensagem:
Jake:
Você está fugindo de mim,
Taylor? Eu te vi na aula escondida e em seguida se esgueirando pelo corredor.
Foi divertido e te darei um crédito, você está obviamente tentando muito.
Ele
havia me flagrado. Digitei furiosamente a resposta.
Não está acostumado a ver
mulheres fugindo de você?
Não
houve mais respostas dele, até mesmo me peguei esperando. Odiei quando percebi
que estava checando meu celular para ver se tinha mensagem nova.
Jake
era tão irritante, quase podia imagina-lo rindo de mim em seu dormitório.
Ele
não demonstrava nenhum interesse em mim, era pelo menos o que parecia, e hoje
mesmo o vi no pátio conversando com outra garota. Isso me deixou completamente
enojada pelo flerte evidente.
Fazer
esse trabalho com ele iria ser tranquilo.
Não
pretendo ser acrescentada a lista de garotas que ele dispensou logo após depois
da ficada. Aquela que fazia a caminhada da vergonha com sensação de ter sido
usada. Nunca iria me colocar no lugar de ser um caso de uma noite só. Havia
mulheres que não se importavam e era sexualmente muito bem resolvidas, mas eu
me ligava muito a pessoa para conseguir ser assim.
Determinação
surgiu em todo o meu corpo e minha mente saiu da nuvem que ela estava entrando.
Só esperava que permanecesse assim.
Demi
saiu com Nick enquanto segui fazendo faxina em nosso quarto para que Jake não
achasse que éramos bagunceiras. Eu não era, mas Demi por outro lado. Como amava
arrumar, nem me importava.
Com
meia hora de atraso, entrou escondido no dormitório pelo acesso secreto que
falei a ele. Todas as garotas sabiam deste segredo da porta de incêndio servir
para deixar homens entrarem, as que namoravam eram as que mais utilizavam. Jake
estava vestido com uma calça preta confortável, uma blusa
preta com um formato de V e botas militares, seu cabelo estava molhado e
bagunçado, o que dizia que ele tinha tomado banho há pouco tempo. Sorriu pra
mim assim que me viu.
Tão
lindo que me irritou.
-Pode
entrar- Falei rudemente a ele. –Não vai querer ser pego no corredor.
-Sabe,
essa sua forma doce comigo é o que me mantém puxando para você- Seu sorriso
arrogante apareceu novamente.
Rolei
os meus olhos.
-Nunca
te disseram que é falta de educação revirar os olhos para alguém?- Perguntou
divertido, enquanto se movia pelo meu quarto até sentar em minha cama.
-Não
costumo fazer isso com muitas pessoas.
-Sou
um privilegiado, então?- A ironia em seu tom.
-Se
pode se considerar assim, com certeza!- Respondi sarcasticamente.
-Sempre
soube que era especial em sua vida- Apontou arqueando uma sobrancelha. –Trago a
superfície suas melhores emoções.
Pisquei
pra ele. -Estou te salvando do egocentrismo.
Fui
pega de surpresa quando riu. –Gosto do seu humor.
-Talvez
devesse sair com garotas que dizem mais o que pensam e puxam menos o seu saco.
-Está
se candidatando?
-De
forma alguma.
Confortavelmente,
se recostou na cama fechando os olhos.
-O
professor especificou exatamente como era o trabalho? Devíamos começar a fazer agora
mesmo- Falei impaciente, batendo o meu pé em sua bota. Ele levantou a cabeça e
me olhou com seus olhos escuros.
-Sim,
ele mandou um email com instruções.
Sentei
ao chão e peguei os meus livros em minha mochila, os espalhando ao meu redor.
Jake levantou da cama e sentou ao meu lado. Estávamos tão perto que os nossos
ombros se escovavam com o mais breve dos movimentos.
Um
suspiro escapou de mim e ele percebeu, pude ver um sorriso preguiçoso se
espalhar pelo seu rosto. Ele amava me ver desconfortável.
Durante
nossos estudos, fiquei surpresa com o quanto ele era inteligente. Não que
pensasse que era ignorante nem nada, mas ele simplesmente parecia saber a
resposta de tudo. Exatamente assim como eu.
Isso
nos fez brigar porque éramos teimosos e ambos achávamos saber melhor na hora de
decidir o que deveria ser feito no trabalho.
Jake
também era engraçado, outro ponto que não tinha percebido muito. Nesse tempo
perto dele, eu havia rido bastante.
Depois
que concluímos o trabalho, ambos estávamos com fome. Não havia cozinha no
dormitório e a cantina estava fechada há essa hora.
-Posso
preparar algo simples para a gente agora, ou podemos só sair para comer algo realmente
substancial e bom na rua. O que prefere?
-Estou
morrendo de vontade de comer um hambúrguer e batata-frita- Jake disse se
levantando. Podia ver que ele estava tentando amenizar meu desconforto. Estava
me sentindo rude por não ter pensado em preparar algo para comermos.
-Então
vamos conseguir o hambúrguer e fritas- Anunciei.
Chegamos
a uma lanchonete e pedimos dois cheeseburger, batatas-fritas e duas Cocas para
acompanhar. Não se passaram segundos antes dele começar a falar.
-Seu
sotaque, de onde ele é?- Jake perguntou entra uma mordida e outra do seu
cheeseburguer.
Engoli
um pouco da minha Coca. –Da Inglaterra, me mudei para cá tem dois anos apenas.
-Você
está longe de casa.
-Assim
como você. Por que resolveu mudar de volta?
-É
uma longa história.
-Olha
que interessante- dobrei minhas mãos sobre a mesa -tenho bastante tempo sobrando.
Apesar
do sorriso que me deu, seus olhos escureceram um pouco. Uma mudança nítida que
não pude deixar de notar.
-Sabe
que tenho descendência brasileira, a minha mãe é de lá e meu pai é americano,
não é?- me perguntou e assenti, esperando que continuasse, o que fez em seguida
-Enquanto eram casados, eles viveram aqui, mas quando se separaram mamãe achou
melhor voltar para seu país de origem. Ela sentia falta de sua família, da
familiaridade do país que cresceu. Resolvi ir com ela quando isso aconteceu por
que sempre fui mais próximo dela. Meus irmãos decidiram ficar aqui. Por um
tempo foi bom, mas também senti falta deles. Um dia minha irmã me ligou por vídeo
chamada e mal pude reconhecê-la, não tinha notado o quanto havia mudado,
envelhecido. Foi neste momento que notei que deveria voltar e tomar conta dela.
Dos dois.
-Sei
que ficar separado dos seus irmãos e pai deve ter sido difícil, mas fiquei
feliz de ouvir que foi com sua mãe, assim ela tinha ao menos um dos filhos com
ela.
-Pensei
o mesmo na época, ela estava triste pelos filhos que ficaram para trás, mas ao
menos tinha a mim. Agora ela está melhor, senti que poderia ir embora e que ela
ficaria bem.
-Seu
pai não ficou chateado por você ter ido?
-Acho
que ficou mais chateado com o fato de eu ter voltado- Deu uma risada seca, que
me fez identificar que era um tema sensível para ele. Sendo assim, não fiz
comentário algum sobre. -Agora vamos falar sobre você. O que te fez se mudar da
Inglaterra para cá?
Dei
de ombros e olhei para a minha latinha de Coca- Cola.
-Só
queria sair da minha zona de conforto, comentei isso com minha irmã e ela
sugeriu este lugar. E foi apenas isso. Nenhuma história surpreendente.
-Duvido
que não tenha sido. Os seus pais gostaram dessa decisão?
-Nem
um pouco. Papai surtou, imaginou suas duas filhas longe de sua proteção e mamãe
ficou ainda mais preocupada, porque não poderia mais me ver. A mãe de Demi foi
a pior, ela chorou por dias dizendo que estávamos a matando de tristeza- Ri
lembrando. Demi e a mãe eram tão parecidas.
-A
mãe de Demi? Vocês não tem a mesma mãe?- E ele fez a pergunta que todos ao
menos uma vez me faziam.
-Não,
meus pais se separaram cedo e meu pai conseguiu minha guarda. Pouco tempo
depois se apaixonou pela mãe da Demi, se casaram e é isto, consegui uma irmã e
uma outra mãe.
-Você
sempre sorri falando da sua família, acho isso lindo- Apontou, me surpreendendo
ao se inclinar e tocar na curva do meu lábio que estava curvado com o sorriso.
Senti
meu rosto pegar fogo e tentei disfarçar o quanto ele me desconcertava.
-Eu
os amo demais, são literalmente tudo para mim.
Embarcamos
então em uma conversa leve e agitada, Jake me fez mais perguntas e eu fiz a
mesma coisa a ele. Foi bom escutar sobre suas histórias do tempo que morou no
Brasil, e logo em seguida como foi voltar a América do Norte, e ter que se
readaptar.
-Qual
o nome dos seus irmãos?- Perguntei curiosa.
-Kelsey
e Seth- Ele soou tão orgulhoso. Quase como um pai e não irmão.
Sentada
ali ao seu lado, comendo um lanche barato e escutando o som da minha voz e a
dele e em seguida nossas risadas misturadas, descobri o lado de Jake que me
recusei a perceber. Ele era doce, divertido e era bom conversar com ele. Dava
para perceber o motivo de todas as garotas estarem sempre atrás dele.
E
quando tentei disfarçar que estava encarando seu rosto enquanto ele falava
sobre seus irmãos sem realmente prestar atenção no que falava. Quando olhou
para mim, diretamente em meus olhos, senti um frio invadir meu estômago. Não
era uma sensação que senti antes.
Era
algo novo.
Aterrorizante.
Ainda
sim, não pude deixar de sorrir.
Continua
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